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A maquiadora Pamela Ferreira, que mora na França há 12 anos, vive o que chama de “pesadelo” desde junho deste ano, após ser agredida e ameaçada pelo ex-namorado brasileiro. Reportagem de Camila Luz A maquiadora mantinha um relacionamento à distância com Rafael desde 2017. No início de 2021, ele se mudou para a França para viver junto da companheira. “Após alguns meses vivendo junto comigo aqui em Paris eu acabei descobrindo as traições dele e foi aí que o pesadelo começou na minha vida”, conta Pamela. A maquiadora diz que terminou o relacionamento no dia 18 de junho, e a reação do então companheiro foi violenta. “Ele ficou extremamente alterado, agressivo, me xingou, me ameaçou, eu chamei a polícia, mas quem é que liga para uma mulher negra, transgênero e que nem é deste país?”, disse. Ela tentou registrar a denúncia em três delegacias diferentes, mas só conseguiu quando a associação Mulheres da Resistência prestou ajuda. Apesar do boletim de ocorrência, a maquiadora conta que Rafael continuou a agredi-la virtualmente. Segundo ela, o brasileiro chegou a enviar diversas fotos íntimas da ex-namorada para contatos profissionais, além de criar perfis falsos em redes sociais e enviar mensagens ameaçando sua integridade física. De acordo com a maquiadora, Rafael continua vivendo tranquilamente no país, onde está de maneira irregular, enquanto ela teme por sua vida. “Eu vivo com medo, eu não estou no meu país, ainda tem o racismo, a transfobia. Eu estou me sentindo desprotegida, com receio de que ele possa realmente me matar”, disse a maquiadora. A maquiadora buscou ajuda da advogada brasileira Fayda Belo, especialista em crimes de gênero. A advogada apresentou um pedido de medida protetiva para o ministério brasileiro de Relações Exteriores. Como Brasil e França têm uma relação diplomática e acordos de cooperação jurídica internacional, Pamela tem a esperança de que seu país cobre da justiça francesa soluções jurídicas para manter a sua segurança. “Hoje ela está presa, trancada em casa, com medo de morrer. Enquanto o agressor continua solto, praticando crimes contra ela, ainda que de maneira virtual. É preciso que a justiça francesa dê a Pamela o direito de ficar viva”, disse Belo. França não considera violência contra mulher como crime Em solo francês, a maquiadora também recebeu ajuda do núcleo parisiense do Grupo Mulheres do Brasil, que funciona como uma rede de apoio para brasileiras no mundo todo. Casos como o da maquiadora são atendidos pelo Comitê de Combate à Violência contra a Mulher, comandado pelas advogadas Ana Perivolaris e Marcella Galozzi. Perivolaris explica que o Mulheres do Brasil trabalha com associações francesas que ajudam a entender o ecossistema jurídico francês. Uma diferença importante é que no Brasil, a violência contra a mulher é crime, enquanto na França é um delito médio. Ela também chama atenção para a dificuldade em denunciar casos de violência de gênero nas delegacias de polícia. “A dificuldade da mulher em denunciar é porque existe ainda um despreparo muito grande, não só das delegacias de polícia. Existe um desconhecimento a nível estrutural da sociedade em compreender que é uma questão complexa, uma questão multidisciplinar, uma questão que entra na esfera íntima das pessoa”, disse. O grupo também oferece apoio psicológico, considerado fundamental nessas situações. Acolhimento em momento de violência Segundo Perivolaris, a mulher que chega à delegacia para denunciar a violência conjugal deve ser recebida com empatia e acolhimento. Nesse sentido, ela reforça o papel das associações e da sociedade civil. “Normalmente, a mulher chega [ao Comitê de Combate à Violência contra a Mulher] em um estado bastante confuso, com muita informação, com muito medo, com muitas dúvidas”, disse. As advogadas, então, explicam todo o passo a passo que a vítima deve percorrer para ficar em segurança. De acordo com a advogada, em casos como o de Pamela, além de ser difícil reunir a energia para denunciar, a mulher se depara com obstáculos para de fato conseguir romper o ciclo de violência. “A porta de saída seria a entrada na delegacia de polícia, e essa entrada é muito difícil, na verdade ela se vê diante de um muro”, finaliza Perivolaris.