Reportagem - “Era de uma magnitude tão inimaginável, que meu raciocínio travou”, diz brasileiro que presenciou 11/9 em Nova York

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Neste sábado (11), os Estados Unidos vão lembrar os 20 anos dos ataques do 11 de setembro de 2001. O maior atentado terrorista em território americano mudou o curso da história no país e no mundo. O brasileiro Hélio Bodini, radicado há anos em Nova York, presenciou os ataques contra as torres gêmeas do World Trade Center. Nesse podcast especial da RFI, ele lembra que "a magnitude [da tragédia] era tão inimaginável que travou o raciocínio" dele. Luiza Duarte, correspondente da RFI em Nova York Eram pouco mais de 9h da manhã (pelo horário local) de 11 de setembro de 2001 quando Hélio Bodini, depois de ouvir a notícia dos ataques pela TV, subiu ao terraço de seu prédio em Nova York. O primeiro avião pilotado por um terrorista da Al Qaeda havia atingido a torre norte às 8h46, e o segundo alvejou a torre sul às 9h03. “Conseguíamos ver as torres gêmeas enfumaçadas, a fumaça saindo. E aí rolou um branco na cabeça de pelo menos 20 a 30 minutos. Eu nunca senti isso na vida. Não conseguia formar uma opinião, tipo: é verdade? É a televisão? É a mídia? Isso está realmente acontecendo? O que é isso? Porque era de uma magnitude tão inimaginável que o nosso raciocínio travou por completo”, recorda Bodini. Agora, o 11 de setembro tem um triplo significado para o brasileiro: é seu aniversário, o dia em que chegou aos Estados Unidos e os atentados. Vinte anos depois, Hélio acredita, como alguns nova-iorquinos, que a ferida aberta pelos ataques começa a se cicatrizar. “Hoje em dia, a tragédia do 11 de setembro tem o seu peso, mas não é mais uma data pesada. Foi uma data pesada durante 4, 5 anos depois do que aconteceu. E aí passou, vira a página, vamos lá, próximo”, afirma à RFI. “Nunca esqueça” Integrantes da Al Qaeda sequestraram e derrubaram três aviões comerciais no World Trade Center, em Nova York, e no Pentágono, em Washington. Um quarto avião sequestrado, que se acreditava ter como alvo o edifício do Capitólio na capital americana, caiu em um campo da Pensilvânia. Os ataques contra as torres gêmeas em Manhattan fizeram 2.753 vítimas. Outras 184 morreram no atentado ao Pentágono e 40 em Shanksville, na Pensilvânia. O 11 de setembro é uma data muito importante para os nova-iorquinos. A frase “never forget” (nunca esquecer, em português) é usada com frequência para descrever a tragédia. A imprensa americana traz neste aniversário de 20 anos uma série de edições especiais sobre o tema – novos documentários, relatos de sobreviventes e de testemunhas. Americanos com idade suficiente para saber onde estavam e como receberam a notícia dos ataques compartilham um momento de horror. Uma tragédia coletiva. Segundo uma pesquisa do Pew Center publicada este mês, mais de 90% dos americanos com mais de 30 anos se lembram de como receberam a notícia dos ataques. Muitos viram as torres em chamas na TV. Aniversário de 20 anos A cerimônia em homenagem às vítimas de Nova York acontece no Marco Zero, onde estavam localizadas as torres gêmeas, hoje um grande vazio em uma área densamente ocupada por arranha-céus. O memorial dos ataques do 11 de setembro não é só um monumento, mas a própria lápide, o túmulo de cerca de 3 mil pessoas que faleceram no local e que as famílias não puderam enterrar. Mais de mil famílias nunca receberam restos mortais para realizar um funeral de seus entes queridos. Isso dá a dimensão da tragédia. Neste sábado, os familiares das vítimas vão se reunir no memorial para ler os nomes em voz alta de todos aqueles que perderam a vida nos ataques. O local onde ficava cada uma das torres será iluminado com um feixe de luz. Chamado de “tributo luminoso”, o horizonte de NY é marcado com as torres virtuais todos os anos. Invasão do Afeganistão  A operação militar americana no Afeganistão começou menos de um mês depois dos ataques e foi uma resposta direta à chamada “ameaça terrorista”. A narrativa do governo americano era a de colocar fim ao terrorismo e levar a democracia, a liberdade ao país, na época comandado pelo Talibã. Militares americanos executaram o saudita Osama Bin Laden, fundador da Al Qaeda, mas mesmo depois disso mantiveram tropas no Afeganistão. Vinte anos depois, a saída dos EUA do país foi sangrenta e caótica. O Afeganistão que fica agora sob o domínio talibã não é a democracia que respeita os direitos humanos que o governo americano pretendia construir. As ameaças às minorias são enormes, há incerteza política e econômica e um grande número de refugiados sem destino. Novas revelações sobre os ataques Hoje, novas revelações indicam que 36 dias antes dos atentados, a inteligência americana alertou o presidente em exercício na época, George W. Bush, que a Al Qaeda planejava realizar ataques em solo americano. Diversos outros indícios de que um ataque terrorista era iminente e envolvia potencialmente explosivos e aviões foram coletados pela inteligência americana antes de 2001. A administração Bush teria ignorado os alertas. Na semana do 20° aniversário, o presidente Joe Biden assinou uma Ordem Executiva para tornar público certos documentos antes sigilosos, relativos aos ataques terroristas de 11 de setembro. Nos próximos seis meses, espera-se que sejam revelados relatórios, documentos analíticos e outros registros, incluindo gravações telefônicas e documentos bancários relacionados com os atentados. Essa era uma das promessas de campanha de Biden. Familiares das vítimas e sobreviventes pressionam o governo americano. Em carta enviada ao democrata, eles pediram ao presidente que evitasse recordar o aniversário dos ataques, caso não tornasse público documentos que eles acreditam poder comprovar o envolvimento de membros do governo da Arábia Saudita com o financiamento dos terroristas da Al Qaeda que realizaram os atentados. A Arábia Saudita nega qualquer envolvimento. Familiares das vítimas e milhares de pessoas que sofreram ferimentos, empresas e seguradoras estão pedindo bilhões de dólares em danos na Justiça americana, em um processo contra a Arábia Saudita.