Michel Peterson (Canada)

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Clarice 100 Ears

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CONCRETALMA Michel Peterson, Ph.D. Professor universitário, psicanalísta, AE, membro da Escola lacaniana de Montreal et do Comitê científico de ALFAPSY NO MEIO DO CAMINHO HA UMA ALMA SOPRALMA ALMAPEDRA DA VIDA A ALMAPERDA A PEDRA CONCRETA PEDRA CAVALALMA Clarice, minha muito bonita, dirijo suas palavras como se fossem espelhos, para que continuem vibrando na máquina do mundo. Seus livros-galáxias trabalham minha alma, eles acompanharam minha jornada de ossos e cinzas por tanto tempo que eu esqueci esse tempo. Eu acho que eles estavam lá antes de eu nascer, quando ainda não os conhecia, desde o arcaico enquanto o Real não estava – antes do antropoceno. Clarice, você me ensinou tudo isso e agora, posso atravessá-lo « inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar », fazendo parte « daquelas pessoas que, só elas, entenderão bem devagar que este livro – G.H. – nada tira de ninguém ». Clarice, eu que sempre busquei o meu caminho, volto quando leio sua abordagem do Gênero Humano : « É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo ». É por isso que eu devolvo, para mantê-la dentro de mim, sua deslumbrante descoberta do finismundo : « Só que ter descoberto súbita vida na nudez do quarto me assustara como se eu descobrisse que o quarto morto era na verdade potente. Tudo ali havia secado - mas restara uma barata. Uma barata tão velha que era imemorial. O que sempre me repugnara em baratas é que elas eram obsoletas e no entanto atuais. Saber que elas já estavam na Terra, e iguais a hoje, antes mesmo que tivessem aparecido os primeiros dinossauros, saber que o primeiro homem surgido já as havia encontrado proliferadas e se arrastando vivas, saber que elas haviam testemunhado a formação das grandes jazidas de petróleo e carvão no mundo, e lá estavam durante o grande avanço e depois durante o grande recuo das geleiras - a resistência pacífica. Eu sabia que baratas resistiam a mais de um mês sem alimento ou água. E que até de madeira faziam substância nutritiva aproveitável. E que, mesmo depois de pisadas, descomprimiam-se lentamente e continuavam a andar. Mesmo congeladas, ao degelarem, prosseguiam na marcha... Há trezentos e cinqüenta milhões de anos elas se repetiam sem se transformarem. Quando o mundo era quase nu elas já o cobriam vagarosas. » MUNDO NU ALMA NUA CONCRETANUALMA ALMA --- Send in a voice message: https://anchor.fm/marilia-librandi/message