Esporte em foco - Promessa olímpica brasileira, Pâmela Rosa diz que mãe deixou de pagar contas para comprar skate

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Cleide Clock, correspondente da RFI em Los Angeles Pâmela Rosa acaba de embarcar em Los Angeles para Tóquio. Durante o último mês treinou duro nas pistas americanas, onde passa boa parte do ano. É na terra onde surgiram as manobras sobre as quatro rodinhas no pedaço de madeira, que a líder do ranking mundial aperfeiçoou suas estratégias para a Olimpíada do Japão. A Califórnia é o destino principal dos skatistas brasileiros, já que o Brasil peca pela falta de estrutura para o esporte. "O Brasil não tem uma pista adequada como tem aqui nos Estados Unidos. Não precisava disso, de todos os atletas terem que vir para cá para depois embarcar para Tóquio. Por que a gente não tem um centro de treinamento nosso no Brasil e sai de lá com todas as energias, torcida de todo mundo e direto para Tóquio? Eu acho que é isso que falta, um pouquinho mais de estrutura e um pouquinho mais de ajuda do Brasil", diz Pâmela. Mesmo sem estrutura, o Brasil é uma das potências e referências do skate mundial. Foi o único país ao lado dos Estados Unidos a conseguir ocupar todas as vagas olímpicas disponíveis: 12 atletas no total. Na modalidade Street feminino, junto com Pâmela, a seleção brasileira conta ainda com Rayssa Leal e Letícia Bufoni e tem muita chance, inclusive, de um pódio triplo. Nesta última semana, Pâmela treinou nas pistas de Los Angeles que simulam obstáculos naturais de rua como escadas, corrimãos, pequenas rampas e alternou treinos leves e pesados. Mas deu uma diminuída mais no final para evitar lesões e não atrapalhar o sonho olímpico. Ela também ajustou o fuso horário, já que o Japão está 16 horas à frente da Califórnia. Todas as estratégias para tentar subir ao pódio foram desenvolvidas junto com o treinador Leandro Lourenço Silva, natural do Rio de Janeiro, que passou boa parte da vida na cidade de Macaé. Conhecido como Leandro Macaé, o brasileiro mora nos Estados Unidos há dois anos. A parceria começou no início de 2021 quando a atleta intensificou o treino para Tóquio. "A Pâmela é fenomenal, é disciplinada, na verdade é uma campeã pronta. Eu desenvolvo meus treinos, tenho uma metodologia própria, e eu mesmo desenvolvi já que o skate é um 'bebê' nessa era olímpica", conta Leandro, que é formado em Educação Física. Primeiro show do skate Esta é a primeira vez que o skate participa de uma Olimpíada. Leandro (42) pratica o esporte há 33 anos, começou quando criança e viu toda a transformação, de amador a profissional. "Eu atravesso mais ou menos três gerações de skatistas. É muito estranho, na minha época eu jamais imaginava que o skate iria ser contemplado nos Jogos Olímpicos. Acho que vai ser muito emocionante. A Olimpíada vai ser uma ferramenta importante, uma vitrine importante para mostrar ao mundo como o skate é fascinante", fala o treinador.   Obrigada mãe! Obrigada Mário! Pâmela subiu em um skate pela primeira vez aos oito anos. Hoje aos 21 e com uma coleção de títulos mundiais, não esquece quando um amigo da irmã chegou na casa dela, em São José dos Campos, com um skate na mão. Foi paixão à primeira vista - pelo skate! Se hoje Pâmela vai aos Jogos Olímpicos, temos que agradecer ao amigo - Mário Gomes - e à mãe de Pâmela, Evânia Rosa, que lá atrás tomou uma atitude corajosa. "Fiquei fissurada pelo skate! Mas eu era bem pequenininha e ele não deixou eu pegar o skate, mesmo assim eu peguei, fui para a rua de casa e comecei a andar. Depois de uma semana e meia abriu um polo esportivo atrás da minha casa e tinha uma pista de skate. Esse mesmo amigo chegou em casa e falou: 'tia, leva a Pâmela para a pista'. Porém, skatista não gosta de emprestar o skate quando está andando. Fiquei lá na pista chorando, chorando e ninguém quis emprestar o skate. Então minha mãe deixou de pagar a conta de água e luz e comprou um skate pra mim", relembra a atleta. Nada foi fácil nesses anos de profissão. Pâmela conta que sem dinheiro, a família teve que fazer muitas escolhas ao longo da carreira da menina que optou por um esporte que, na época, além de ser marginalizado, não era visto como profissão, nem como uma atividade feminina. Pâmela é uma das mulheres que estão ajudando a quebrar todos esses preconceitos. "Eu acho que a seleção brasileira de skate está indo com os principais atletas do Brasil e também do mundo, porque tem que estar dentro dos 20 do ranking mundial para participar. O que eu gosto da gente é que nós temos uma garra muito forte, a gente não desiste muito fácil. Então acho que tanto as modalidades Street quanto Park vão dar o melhor e, se Deus quiser, trazer a medalha para casa, não importa se é primeiro, segundo ou terceiro lugar. A gente sabe que vai estar andando com os 20 melhores do mundo, ainda mais que estaremos concorrendo com os japoneses que estarão em casa", diz Pâmela. Espírito esportivo Pâmela chega em Tóquio neste domingo. Por causa da pandemia teve que embarcar sozinha, sem treinador nem alguém da família. Já foi vacinada, porém revela que ainda há o medo de se contaminar e ser desclassificada, dessa que diz ser a competição de sua vida, então todo cuidado é pouco. Mas nada abala a mente da campeã. "Eu estou bem tranquila. Sou uma pessoa que consigue conciliar tudo então não fico nervosa, não estou nem um pouco ansiosa também, não deixo isso tomar conta de mim. A gente sabe que é uma das melhores competições e também a do meu sonho, porém eu não deixo isso tomar a proporção de tudo. Para não me prejudicar eu coloco como se fosse uma competição qualquer que eu vou estar lá dando o melhor dentro dos 45 segundos e cinco manobras", diz. As competições na modalidade Street estão programadas para acontecer nos dias 25 e 26 de julho.