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Começou hoje na cadeia de máxima segurança da Machava, nas imediações da capital moçambicana, o julgamento de 19 arguidos acusados de envolvimento no caso das ‘dívidas ocultas’, empréstimos ascendendo a mais de 2 mil milhões de dólares contraídos em nome do Estado Moçambicano entre 2013 e 2014, durante o mandato do antigo presidente Guebuza e sem conhecimento do parlamento. O início deste processo coincidiu com a confirmação esta segunda-feira por um comunicado das autoridades sul-africanas de que Pretoria decidiu extraditar para Moçambique, uma das figuras-chave deste caso, Manuel Chang, antigo ministro moçambicano das finanças detido desde finais de 2018 na África do Sul a pedido dos Estados Unidos, pelo seu alegado envolvimento neste caso. Depois de largos meses de suspense, com Maputo e Washington a fazerem pedidos de extradição concorrentes, Pretória acabou por decidir entregar às autoridades moçambicanas o antigo governante suspeito de ter tido um papel importante neste que é o maior escândalo de corrupção do país. Uma má notícia do ponto de vista de Adriano Nuvunga, coordenador do Fórum de Monitoria do Orçamento, entidade que tem envidado esforços para que Manuel Chang seja preferencialmente ouvido pela justiça americana. «Para nós, a justiça será servida se ele for extraditado onde acreditamos na independência do poder judiciário em relação ao poder politico e onde acreditamos que muito mais informação ser-nos-á revelada sobre quem são os outros que ainda estão a monte e também mais informação que vai permitir que o Estado Moçambicano recupere o dinheiro que não veio para Moçambique», considera Adriano Nuvunga. Na óptica do activista «a vinda de Manuel Chang a Moçambique, vai fechar o processo, vai matar o processo e é isso que o regime político de Moçambique quer». Questionado sobre a ausência enquanto testemunhas de várias figuras, nomeadamente do antigo Presidente Guebuza, Adriano Nuvunga disse «acreditar que um julgamento sério deve resultar também em processos autónomos, inclusive contra o antigo Chefe de Estado». Ao expressar a esperança de que «haja um julgamento transparente, no sentido de que todas as pessoas falem aquilo que sabem», o activista moçambicano refere «não estar com qualquer tipo de desânimo nesta matéria». Porém, para Adriano Nuvunga «o que é mais provável acontecer é a condenação de todos os que estão ali, numa condenação teatral porque o Estado Moçambicano não irá buscar o que é mais importante que são os activos que eles adquiriram. O Estado Moçambicano não foi buscar os activos».