COP26: Crise energética descredita discurso ambiental da China

Share:

O Mundo Agora

News


Três ausências notáveis chamam a atenção na COP26, em Glasgow. Os líderes de Rússia e Arábia Saudita, influentes no controle da produção de petróleo via OPEP e OPEP+, e da China, principal consumidora, não foram à Escócia. O presidente americano, Joe Biden, criticou muito a ausência de Vladimir Putin e Xi Jinping, principalmente. No entanto, há uma explicação plausível, pelo menos do lado de Xi Jinping, para não estar presente na conferência da ONU. Thiago de Aragão, analista político Desde que Xi assumiu a presidência da China em 2013, ele vem fazendo de tudo para colocar o país no centro dos principais debates globais. Entre eles, a questão climática e de transição energética. Xi nunca se furtou de participar de conferências e encontros nos quais ele sempre levou uma mensagem forte para colocar a China na vanguarda desses temas. Um dos principais (e únicos) pontos de convergência entre China e EUA é justamente o da transição energética. A China lidera a produção global de turbinas eólicas e painéis solares.  Recentemente, no entanto, Xi vem lidando com uma crise energética sem precedentes no país. A falta de eletricidade vem afetando inúmeras indústrias e fazendo com que a China tenha de utilizar cada vez mais carvão, inclusive importando da rival Austrália. Isso coloca por água abaixo (pelo menos temporariamente) a narrativa de energia limpa e transição energética bem-feita que Xi vinha bradando aos quatro cantos do mundo. As Olímpíadas de Inverno de Pequim, no ano que vem, seriam uma demonstração do sucesso dessa política de transição. A crise energética e a utilização sem precedentes de carvão expuseram a fragilidade da rede energética do país, fazendo com que toda a defesa anterior de Xi perdesse credibilidade. Temendo a ausência de um discurso que reverberasse positivamente na China, Xi optou por não comparecer na COP26 e se esquivar de questionamentos na única área em que ele tentava se colocar como a liderança global.  Assim, até que a situação energética no país seja solucionada, Xi deverá manter discrição em participações internacionais que abordem o tema da transição energética. Na esperança de se poupar de ataques e, principalmente, de notícias negativas que porventura cheguem à China, Xi dará mais atenção à sua política doméstica, tentando achar uma solução a curto prazo para o problema energético, ao invés de dar a cara para bater.