Brasil-Mundo - Pintor santista se inspira no universo marinho do Havaí e encanta o mundo

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Numa das curvas da estrada que leva às ondas gigantes do Havaí, um santista mostra o resultado do encontro de mar e pincéis. No North Shore, da ilha de Oahu, perto de onde acontece anualmente a final do campeonato mundial de surfe, em uma galeria dentro de um container, Hilton Alves expõe e vende suas obras feitas a partir do seu olhar diante da fonte inesgotável de inspiração. Passar o dia nas praias, surfar, mergulhar e observar a vida marinha, as nuances do pôr do sol, os tons do céu e do mar, a delicadeza da flora, a formação distinta de cada onda: este é o laboratório do pintor brasileiro. "Hoje aqui no Havaí a inspiração é praticamente voltada a onde tudo começou no Brasil. Aqui, durante o verão (época sem onda no North Shore), eu mergulho, vejo as tartarugas, às vezes eu vou à praia à noite quando elas estão dormindo, tiro foto. Já quando chega a época de surfe (inverno do hemisfério norte), também tem baleia e eu sempre estou tentando chegar um pouco mais próximo dos animais. Isso retrata um pouco o meu trabalho", conta o artista. As telas são multicoloridas e revelam todo esse universo que rodeia o pintor. É muito comum encontrá-lo pelas praias com o cavalete e usando água do mar para dar o tom e a mistura perfeita. Hilton mora no Havaí desde 2007, quando veio para competir em um campeonato de stand up paddle. Mas, a carreira junto às tintas começou sete anos antes, em 2000, nas praias de Guarujá, no litoral de São Paulo. O menino que cresceu ajudando o pai em um quiosque à beira mar, já tinha as ondas como paixão e, ao completar 20 anos, apostou no sonho de viver de mar e arte. "Ali eu comecei a pintar e expor em campeonatos de surfe, na Praia do Tombo, no Guarujá. Eu deixava os quadros em volta do palanque, subia e falava com o cara da locução. Pedia para ele anunciar, enquanto não tinha onda e estava meio chato, que eu estava pintando lá embaixo", lembra. Assim começou o networking no mundo do surfe, onde Hilton circula e é bem conhecido. Já participou de diversas exposições e eventos temáticos, suas pinturas já estamparam cartazes de campeonatos em várias partes do mundo. A vida marinha Peixes, corais, baleias, tartarugas são algumas das personagens principais nas telas de Hilton, que teve que trilhar um caminho paralelo para aprender mais sobre esses animais. Quando ainda morava no Brasil, percorreu projetos como o Tamar, o Instituto Baleia Jubarte e mergulhou no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. Ensinava os biólogos a pintar e em troca aprendeu sobre as particularidades estéticas de cada espécie - estando cara a cara com elas. Foi ainda no Brasil que começou a pintar grandes murais, na casa de amigos e até nos muros de Guarujá, de madrugada, sem permissão. Já no Havaí, começou em 2013 o projeto 101 Perfect Waves. Hilton pretende pintar 101 grandes murais pelo mundo, já foram até agora 38. Todos têm por trás algum projeto social, como por exemplo arrecadar recursos para ONGs ou escolas. O primeiro mural foi na ilha havaiana de Oahu e o segundo, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Pintou também na Califórnia, Texas, Miami, Maui, Cingapura, Israel e vários deles com a ajuda de crianças em escolas do Havaí. Por causa da pandemia, o projeto desacelerou, mas o próximo painel já está marcado para ser no prédio dos Serviços de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS), em Honolulu. O artista também já tem pedido para murais em Portugal, Austrália, Barcelona, Bali e um sonho:  "O mural número 1 é o maior mural de onda do mundo. Mas agora eu quero pintar o maior mural da história para ir para o Guinness Book. Então eu tenho mais 60 e poucos murais para tentar achar esse recorde mundial e eu vou atrás dele", diz. A Galeria-contâiner     Um dos murais, o de número 27, estampa a galeria do artista que fica dentro de um grane contâiner, em Kahuku, uma localidade típica havaiana: nos arredores encontramos ondas perfeitas, turistas, hotel 5 estrelas, mas muitos locais que vivem das ondas ou da agricultura. Durante vários anos, Alves expôs nas diversas galerias do famoso artista americano da vida marinha e conservacionista Wyland, mas preferiu trocar o circuito comercial pela rotina de encontrar os clientes dentro do seu próprio espaço. "Eu não vendo tela, eu conto as histórias dos meus murais, nos meus quadros e as pessoas acabam gostando. É um espaço muito simples, onde tenho meu cavalete e fico pintando enquanto recebo visitas. Tirei minhas obras de todas as galerias chiques e aí no meu espaço tenho a liberdade de ser quem eu quero ser", conta Alves. Conexão Brasil-Havaí Não espere encontrar na galeria bandeiras do Brasil, como acontece em muitos estabelecimentos de nossos conterrâneos que levam a nacionalidade para todo mundo ver. Hilton Alves não se coloca antes de tudo como brasileiro, mas sim como um artista das belezas da natureza que adotou o Havaí, e vice-versa. "Aqui eu encontrei tudo que eu preciso para ser artista, a extensão do que eu tinha no Brasil. As ondas, o pôr do sol, nascer do sol, lua, a água limpa, os animais marinhos. Eu acho que isso qualquer artista sonha em ter. Eu vim para o Havaí, abracei a cultura havaiana e quero mostrar tudo no meu trabalho. Agora, unindo isso ao meu espírito brasileiro, quando estou fazendo meus murais, ouço Zeca Pagodinho, muito samba, estou sempre tomando meu café. Acho que a galera gosta dessa energia do Brasil, sem eu carregar uma bandeira brasileira à flor da pele", revela Hilton Alves.