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É uma canção histórica para os portugueses e está agora a fazer história numa das séries mais populares da Netflix, “A Casa de Papel”. Cinquenta anos depois de Grândola Vila Morena ter sido gravada em Paris por Zeca Afonso, a cantora que a reinterpreta, Cecilia Krull, está também em Paris a gravar o primeiro disco e deverá incluir a canção que descreve como “uma ode à liberdade”. Foi em 1971, no célebre estúdio do Château d'Hérouville, a 30 quilómetros de Paris, que Zeca Afonso gravou Grândola Vila Morena, a canção que três anos depois seria uma das senhas para a Revolução dos Cravos. Símbolo de liberdade e de resistência contra a ditadura, Grândola Vila Morena aparece reinterpretada, em 2021, numa das séries mais populares da Netflix, "A Casa de Papel". A voz é de Cecilia Krull, que também interpreta a música do genérico do filme, “My Life is Going On”. A cantora franco-espanhola está em Paris a gravar o seu disco de estreia, que deverá incluir uma versão de Grândola Vila Morena. “A verdade é que não sabia que Zeca Afonso tinha gravado a Grândola aqui e parece-me, mais uma vez, uma obra maravilhosa do destino, uma coincidência fantástica e fico muito contente e muito feliz (...) O meu disco é pessoal, fora da série, fora dos filmes, é um projecto pessoal com canções muito melódicas, com tons de electrónica analógica, mas também é um disco orgânico, com muita musicalidade. Estou muito feliz de poder lançar o meu primeiro disco e a Grândola creio que sim, que vai entrar no disco”, contou a cantora à RFI, em Paris. Nas primeiras temporadas, o hino da série era "Bella Ciao" e agora surge a "Grândola Vila Morena". Para Cecília Krull, ambas as músicas são "odes à liberdade", à imagem de uma série que se apresenta como um manifesto pela resistência. “O que o Álex Pina quis transmitir é a mensagem da própria canção. É uma mensagem que fala da liberdade, creio que também tem a ver com a resistência: a resistência tanto do grupo da série como do povo, afinal de contas. É como a representação do povo através dessa equipa de ladrões com nomes de cidades do mundo, incluindo Lisboa”, considerou. Como transformar um hino de uma revolução histórica pacífica numa canção épica de uma série Netflix? Para Cecilia Krull, o segredo é jogar com o contraste: “é contrastar imagens tão violentas com uma canção que fala de liberdade e de paz”, explicou a cantora, sublinhando, a sorrir, que é uma pergunta a que só o realizador Álex Pina poderia responder. E de acordo com Gisela Chaló Gomes, agente de Cecilia Krull em Portugal e no Brasil, bastaram “24 horas” para que a reinterpretação da Grândola Vila Morena fosse “uma das músicas mais buscadas no Youtube”. Portugal aparece em destaque nesta quinta temporada. Lisboa aparece várias vezes, continua a ser o nome de uma das personagens e há a "Grândola Vila Morena" a marcar o compasso de um dos episódios mais marcantes. O próximo capítulo está "fechado a sete chaves" mas a "Casa de Papel" promete voltar a piscar o olho a Portugal. A 3 de Dezembro, surgem os novos episódios que deveriam pôr um ponto final na história. No entanto, como insiste uma das protagonistas enquanto se ouve a Grândola Vila Morena, há “muitas vidas por viver” e não é de excluir que a Netflix produza um ‘spin-off’ a partir da vida de uma das personagens.