Miscellaneous
As plantas estão em todos os lugares: no jardim, na decoração, na praça e no parque. Elas estão lá, mesmo que a gente nem sempre note sua presença. Essa nossa insensibilidade diante desses seres vivos ficou conhecida como Cegueira Botânica. Termo proposto na década de 90, junto com uma lista de “sintomas”, falhas de nossa percepção, em reconhecer a individualidade, o ciclo de vida e a importância ambiental das espécies vegetais. Mas, essa nossa relação com as plantas pode ser melhorada e, os Jardins Botânicos, espaços dedicados à preservação e divulgação das plantas, são uma ferramenta importante nesse processo. Nesse episódio, Mayra Trinca e Thiago Ribeiro conversam com Matheus Colli-Silva, que é biólogo e doutorando em botânica pela USP e, com Domingos Savio Rodrigues, diretor do Jardim Botânico de São Paulo, para entender melhor o que é essa cegueira e o que é, e qual o papel de um Jardim Botânico nessa história. Vem com a gente encontrar um outro olhar pro mundo verde ao nosso redor. Thiago: Oi! Deixa eu te fazer uma pergunta. Se eu te pedir um exemplo de alguma espécie que está ameaçada de extinção, qual é a primeira que vem na sua cabeça? Thiago: É bem provável que você, assim como a maioria das pessoas, tenha pensado em um animal como o mico-leão-dourado ou a onça-pintada, já que são eles que, com frequência, ganham a mídia e as manchetes quando falamos sobre extinção. Mayra: O que pode te surpreender é que as plantas correm um perigo ainda maior do que os animais. Um relatório feito no ano passado pelo Jardim Botânico Kew Gardens mostrou que 2 em cada 5 espécies de plantas estão em extinção. No Brasil, das 6 mil espécies avaliadas pelo Centro Nacional de Conservação da Flora, 2 mil estão ameaçadas em algum grau. Thiago: Segundo o último censo do ICMBio, registrado no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, em 2018, dos mais de 17 mil grupos de animais listados, 1.173 encontram-se ameaçados. Isso significa dizer que, proporcionalmente, o risco de perda de diversidade vegetal é cerca de 5 vezes maior em relação aos grupos animais. Essa dificuldade que temos de perceber e valorizar as plantas como um grupo de seres vivos importantes faz parte de um fenômeno conhecido como cegueira botânica. Thiago: E aí? Se interessou? Meu nome é Thiago Ribeiro. Mayra: E eu sou a Mayra Trinca. E hoje vamos tentar entender um pouquinho mais sobre essa tal cegueira ou invisibilidade da flora que está presente em tantos espaços à nossa volta. [VINHETA OXIGÊNIO] Mayra: Vou começar falando da minha relação com as plantas. A versão curta da história é assim. Quando eu entrei na faculdade para fazer Biologia, tinha toda certeza do mundo que ia trabalhar com bicho, mas o mundo deu voltas bem rápido e logo no primeiro ano eu comecei um estágio na botânica. Aí fui me interessando e pegando outras disciplinas sobre o tema. Foi numa apresentação de seminário em uma dessas disciplinas que eu conheci o termo cegueira botânica. Thiago: Eu me lembro de notar as plantas, pela primeira vez, no cursinho. Desde então, a botânica passou a ser uma parte da biologia muito complicada pra mim. Com um monte de nomes estranhos e difíceis de entender. Não sei dizer como isso de fato aconteceu, mas quando percebi, estava concluindo meu trabalho final de curso sobre conservação do palmito juçara. Nesse momento eu já tinha tido contato com o termo ‘cegueira botânica’ e, a partir daí, essa tem sido uma questão que sempre me intriga. Mayra: Esse contato meio conturbado com a botânica é relato comum entre as pessoas que fazem o curso de Biologia e acaba se refletindo na educação básica, já que a maioria dos professores de Ciências tem essa formação. Matheus: Sempre tem esse estereótipo da botânica entre os biólogos. Eu acho que isso também existe, inclusive, entre os professores, que são biólogos na maioria das vezes - professores de Ciências e de Biologia - e,